Viga e Pilar em Concreto Armado: Armar Diretamente ou Usar Sobras?
Uma Reflexão Técnica Essencial para a Engenharia Estrutural.
No universo da construção civil, especialmente na execução de estruturas de concreto armado, uma dúvida bastante recorrente entre projetistas, engenheiros de obra e equipes de execução é:
“É mais eficiente armar diretamente as vigas nos pilares, ou deixar sobras (prolongamentos) das barras para realizar o engastamento?”
Essa decisão, muitas vezes tomada no canteiro ou no escritório de projeto, tem impacto direto na segurança estrutural, na durabilidade, na produtividade da obra e no custo final.
✓A Importância das Ligações Viga-Pilar no Desempenho Estrutural
A ligação entre vigas e pilares é, indiscutivelmente, um dos pontos mais críticos em qualquer estrutura de concreto armado. É nesse nó estrutural que se concentram:
✔️ Momentos fletores negativos intensos, especialmente nas regiões de apoio;
✔️ Esforços cortantes elevados, devido à transferência de cargas verticais e horizontais;
✔️ Forças normais (axiais), que circulam entre pilares e vigas, especialmente em edifícios de múltiplos andares.
Uma ligação deficiente pode resultar em patologias estruturais, como fissuração excessiva, perda de rigidez, deformações indesejadas e, em casos extremos, colapsos parciais ou totais.
Entendendo as Alternativas Construtivas
✓ Armação Direta das Vigas nos Pilares
É o processo no qual as armaduras da viga são completamente montadas no local, passando pelos pilares, garantindo continuidade total e uma ancoragem conforme as exigências da NBR 6118:2014.
Vantagens Técnicas:
✔️ Maior segurança estrutural, com garantia de continuidade das armaduras principais.
✔️ Melhor capacidade de resistência aos momentos negativos nos apoios.
✔️ Distribuição adequada dos esforços, com redução de tensões concentradas.
✔️ Menor risco de erros associados ao mal posicionamento de sobras.
✔️ Facilita ajustes e conferências no próprio canteiro, durante a montagem da estrutura.
Desvantagens:
❌ Pode demandar mais tempo de montagem, especialmente em nós congestionados.
❌ Maior complexidade na concretagem dos nós, exigindo atenção redobrada ao adensamento.
❌ Requer mão de obra bem qualificada para interpretação dos detalhes de projeto.
Uso de Sobras (Prolongamentos) nas Armaduras
Consiste na prática de deixar barras salientes (sobras) nos pilares ou nas vigas para posterior conexão, por meio de emendas por sobreposição, ganchos, dobras ou uso de dispositivos mecânicos (luvas de emenda).
Vantagens Técnicas:
✔️ Maior velocidade na montagem dos pavimentos superiores, em obras com ciclos rápidos.
✔️ Permite o sequenciamento de etapas: primeiro o pilar, depois a viga, ou vice-versa.
✔️ Reduz o tempo de armação nas fases seguintes, especialmente em edifícios modulares.
✔️ Menor quantidade de armadores necessários no ciclo de montagem.
Desvantagens:
❌ Altamente dependente do correto posicionamento das sobras, tanto em comprimento quanto em alinhamento e espaçamento.
❌ Se as sobras forem mal posicionadas, o nó estrutural fica fragilizado, com riscos sérios à segurança.
❌ Dificuldade de ajustes futuros; qualquer erro implica retrabalho e aumento de custos.
❌ Requer rigor absoluto no controle dos comprimentos de ancoragem ou de sobreposição, conforme a NBR 6118.
O Que Diz a Norma Brasileira NBR 6118:2014?
A ABNT NBR 6118:2014 – Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento, estabelece critérios rigorosos para:
✔️ Comprimento de ancoragem das armaduras (Capítulo 9.4.2);
✔️ Emendas por sobreposição, por soldagem ou dispositivos mecânicos (Capítulo 9.4.3);
✔️ Detalhamento dos nós estruturais (Capítulo 13.4), especialmente sobre espaçamento, aderência e confinamento das armaduras.
A norma define que o comprimento de ancoragem e sobreposição deve ser calculado com base em fatores como diâmetro da barra, aderência do concreto, presença de barras adjacentes e tipo de solicitação (tracionada ou comprimida).
Portanto, ambas as soluções são tecnicamente válidas, desde que respeitados rigorosamente os parâmetros normativos.
Conclusão Técnica – O Que é Mais Recomendo?
A decisão entre armação direta ou uso de sobras (prolongamentos) deve ser sempre técnica, jamais meramente operacional.
Para obras complexas, com grandes vãos, edifícios comerciais, hospitais ou estruturas especiais, recomenda-se a armação direta nos nós viga-pilar, buscando garantir a máxima integridade, rigidez e desempenho estrutural.
Em obras seriadas, residenciais verticais de múltiplos pavimentos, galpões ou edifícios modulares, o uso de sobras pode ser altamente eficiente, desde que haja controle absoluto sobre o posicionamento, comprimento e qualidade das armaduras deixadas para continuidade.
Em ambos os casos, o papel da engenharia de projeto e da fiscalização é determinante para garantir a segurança e a durabilidade da estrutura.
Referências Bibliográficas Fundamentais
ABNT. NBR 6118:2014. Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
FUSCO, P. B. Estruturas de Concreto: Solicitações Normais e Tangenciais, Fissuração e Deformações. 8. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2014.
EL DEBS, M. K. Concreto Armado – Fundamentos do Dimensionamento de Elementos Estruturais. 3. ed. São Carlos: Editora da UFSCar, 2017.
HELENE, P.; PINHEIRO, F. A. Durabilidade de Estruturas de Concreto Armado. São Paulo: PINI, 2015.
METHA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: Microestrutura, Propriedades e Materiais. 3. ed. São Paulo: IBRACON, 2014.
E você, profissional da engenharia, qual prática tem adotado nas suas obras?
Prefere a robustez da armação direta ou a agilidade dos prolongamentos bem planejados? Compartilhe sua visão nos comentários! 👷♂️👷♀️💡
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