Por que alguns eletricistas evitam colocar o circuito de iluminação sob proteção do IDR?
> 1. Alto risco de desligamento intempestivo (desarme falso):
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Lâmpadas LED, fluorescentes e reatores eletrônicos possuem capacitores, filtros e pequenas correntes parasitas de fuga para terra, comuns e até normais nesses equipamentos.
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Com o tempo, a soma das pequenas correntes de fuga de várias lâmpadas pode se aproximar do limite de sensibilidade do IDR (geralmente 30 mA em residências).
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Resultado: o IDR pode desarmar mesmo sem falha real no sistema, principalmente em dias úmidos, com equipamentos antigos, em circuitos longos ou com instalações não muito bem isoladas.
> 2. Segurança operacional – Perda total da iluminação:
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Se ocorrer um disparo do IDR, todo o circuito de iluminação protegido por ele fica apagado, o que pode gerar situações de risco, especialmente:
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Durante a noite.
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Em locais sem iluminação natural (garagens, corredores, escadas, etc.).
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Para pessoas idosas, crianças ou pessoas com mobilidade reduzida.
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Na ausência de iluminação, qualquer necessidade de localizar o problema no QDC se torna mais difícil e perigosa.
> 3. Dificuldades associadas à instalação:
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Circuitos de iluminação frequentemente compartilham condutores neutros (neutros compartilhados), o que é incompatível com IDR, pois gera desequilíbrio constante e desarma o dispositivo.
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Isso exige que o neutro do circuito protegido pelo IDR seja exclusivo, o que, em instalações antigas ou mal planejadas, pode significar retrabalho, quebra de paredes ou substituição de conduítes.
> 4. Desconhecimento técnico e tradição:
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Alguns eletricistas reproduzem práticas antigas, anteriores à popularização dos DRs no Brasil, com base na tradição de que “nunca se protegeu iluminação com DR”.
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Nem sempre há atualização técnica, acompanhamento das normas ou entendimento pleno dos benefícios da proteção diferencial residual.
= Mas atenção: Tecnicamente, não existe na norma brasileira (NBR 5410) nenhuma proibição de que os circuitos de iluminação sejam protegidos por IDR.
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A norma recomenda fortemente que todos os circuitos que alimentam pontos de uso acessíveis ao ser humano estejam protegidos por IDR, principalmente em ambientes internos residenciais.
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Inclusive, há uma tendência crescente, na Europa, Estados Unidos e Brasil, de se proteger todos os circuitos, incluindo iluminação, principalmente em construções novas.
> Soluções técnicas adotadas para contornar os problemas:
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Separação de IDRs:
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Um IDR exclusivo para iluminação e outro para tomadas e demais cargas.
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Assim, se um desarma, o outro permanece ativo, garantindo iluminação.
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Uso de IDRs de maior imunidade a surtos e fugas capacitivas:
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Dispositivos de classe "Super-Imune" ou "Alta Imunidade", que suportam melhor picos, harmônicos e correntes parasitas sem desarmar falsamente.
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Instalação de dispositivos DR de alta sensibilidade só em circuitos críticos:
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Por exemplo, deixar o circuito de iluminação fora do DR geral, mas proteger todos os circuitos de tomadas, cozinha, áreas molhadas, etc.
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Instalação de iluminação de emergência no quadro elétrico:
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Solução complementar que assegura luz mínima para manobras no quadro em caso de desarme.
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= Conclusão técnica:
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O argumento contra o uso do IDR em circuitos de iluminação se apoia mais em aspectos práticos (evitar apagões por disparo) do que técnicos ou normativos.
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Do ponto de vista da segurança elétrica, o ideal é que todos os circuitos sejam protegidos, incluindo iluminação.
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No entanto, a decisão final deve ser fruto de um bom projeto elétrico, considerando:
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O tipo de edificação,
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As características dos equipamentos,
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A capacidade do quadro elétrico,
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E a segurança dos ocupantes.
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> Fontes técnicas atualizadas:
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ABNT NBR 5410:2004 — Instalações elétricas de baixa tensão.
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SIEMENS. Guia Técnico de Proteção Residual – Dispositivo DR. Siemens Brasil, 2017.
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SCHNEIDER ELECTRIC. Manual Técnico de DR – Proteção Residual. Schneider Electric, 2018.
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PRADO, Newton C. Braga. Instalações Elétricas: Projeto e Dimensionamento. 3. ed. São Paulo: Érica, 2019.
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LEGRAND. Catálogo Técnico DR e Proteções Diferenciais. Legrand Brasil, 2020.

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