Análise Técnica de um QDC com Disjuntor Motor Schneider

1. Identificação geral do QDC

O quadro é um QDC monofásico (fase + neutro) ou possivelmente bifásico derivado de rede 127/220 V, montado em caixa embutida (aparentemente termoplástica verde) com três trilhos DIN ocupados por disjuntores modulares de pequeno porte (curva de atuação presumivelmente B ou C, típicos de uso residencial/comercial) e um dispositivo de entrada separado à direita: um disjuntor-motor Schneider (linha TeSys GV2) ajustável entre ~10 A e 30 A (escala visível). O aterramento (PE) e o barramento de neutros (N) estão dispostos na parte superior do quadro, em barramentos de bornes distintos (PE à esquerda, N em azul à direita), o que é consistente com a exigência de segregação funcional entre condutor de proteção e neutro. 

2. Dispositivo de entrada (principal) – Disjuntor-motor Schneider TeSys GV2

O componente maior à direita é um disjuntor-motor termomagnético ajustável TeSys Deca GV2 (Schneider Electric). Esses aparelhos são concebidos primordialmente para partida e proteção de motores elétricos (sobrecarga térmica ajustável + disparo magnético para curto-circuito), em conformidade com IEC 60947-2 e IEC 60947-4-1 (normas transpostas no Brasil como ABNT NBR IEC 60947-2 / -4-1). Eles também são aptos ao seccionamento (adequados como dispositivo de isolamento) conforme indicação do fabricante; entretanto, não são mini-disjuntores de uso doméstico segundo ABNT NBR NM 60898 e, portanto, seu emprego como “disjuntor geral de entrada” em quadros residenciais deve ser avaliado quanto à coordenação de proteção, seletividade, corrente de ajuste e capacidade de interrupção face à corrente de curto presumida no ponto de entrega. 

Pontos de atenção quanto ao uso do GV2 como geral:

A faixa de ajuste térmico (visível ~10-30 A) deve ser compatível com a corrente de projeto/demanda calculada do QDC, conforme dimensionamento estabelecido pela NBR 5410 (seção de previsão/demanda de cargas e escolha do disjuntor de entrada). 

Verificar a capacidade de interrupção (Icu/Ics) do modelo específico frente à corrente de curto-circuito no ponto de instalação; os GV2 atendem níveis típicos industriais, mas a coordenação deve ser confirmada, especialmente se a concessionária fornecer níveis elevados. 

Confirmar se todos os polos necessários ao esquema de aterramento estão sendo seccionados (por ex., em sistemas TT recomenda-se seccionar fase e neutro no dispositivo geral). A imagem mostra conexões fase (vermelho) e neutro (azul) entrando no GV2, sugerindo uso bipolar, porém a série GV2 é classicamente tripolar; convém verificar se se trata de versão especial ou se um polo está inoperante. 

3. Fileiras de disjuntores termomagnéticos modulares (circuitos terminais)

As três fileiras centrais contêm disjuntores modulares de pequeno porte (mini-disjuntores), com alavancas azuis e marcação de fabricante que, pela imagem, parece “Ingitec / Ingetec” (a identificação precisa requer inspeção direta). Esses aparelhos cumprem tipicamente as funções de proteção contra sobrecargas e curtos nos circuitos terminais, podendo também servir para comando/seccionamento local. Os mini-disjuntores destinados a uso residencial/comercial devem estar em conformidade com ABNT NBR NM 60898 (disjuntores para uso doméstico e análogo) e/ou ABNT NBR IEC 60947-2; catálogos de fabricantes como o Multi 9 (Schneider) ilustram as curvas B, C, D e as capacidades de interrupção (6 kA, 10 kA, etc.) que orientam a seleção adequada. 

A divisão da instalação em múltiplos circuitos terminais (iluminação, TUG, TUE, cargas específicas) é uma exigência fundamental da NBR 5410 para permitir seccionamento seguro, limitar as correntes de falta e facilitar manutenção. O arranjo do seu QDC, com vários disjuntores dedicados, está alinhado ao princípio de circuitos individualizados, embora a correspondência exata (qual circuito cada disjuntor alimenta) não esteja legível e precisa ser rotulada. 

4. Barramentos e distribuição interna

Observa-se jumper/barramento de distribuição em vermelho interligando os bornes de entrada dos disjuntores de cada fileira (provavelmente distribuindo a fase). Certifique-se de que o barramento seja componente adequado (pente isolado homologado) dimensionado para a corrente de alimentação do conjunto, e que a instalação atenda às limitações de corrente e temperatura estabelecidas pelo fabricante dos disjuntores/barramentos modulares; catálogos de fabricantes (ex. Multi 9) tratam de pentes de conexão e das correntes admissíveis. 

O barramento de neutros (azul) separado do barramento de proteção (PE verde/verde-amarelo) segue a recomendação normativa de segregação das funções N e PE a jusante do ponto de entrada, evitando uso indevido de condutor PEN em instalações internas salvo condições específicas. 

5. Identificação de condutores por cor

Na imagem, os condutores azuis estão conectados ao barramento de neutro; os verde/verde-amarelo ao barramento de proteção; e as alimentações de fase são vermelhas (cor livre permitida para condutores vivos desde que não se use azul-claro, verde ou verde-amarelo reservados). Isso está em concordância com a NBR 5410 (itens 6.1.5.3.x) conforme sintetizado por Mattede (Mundo da Elétrica) e outros guias técnicos. 

6. Capacidade de reserva (espaço para futuros circuitos)

A NBR 5410 requer que todo quadro de distribuição seja especificado com capacidade de reserva proporcional ao número de circuitos inicialmente previstos (ex.: até 6 circuitos → +2 reserva; 7-12 → +3; 13-30 → +4; >30 → ≥15%). O seu quadro parece bastante preenchido; avalie se ainda existe espaço disponível ou se será necessário prever extensão / subquadro para futuras ampliações. 

7. Identificação e sinalização

A norma determina que componentes do QDC e circuitos correspondentes sejam identificados de forma clara e durável, inclusive placas de advertência (por exemplo, alertando para não substituir disjuntores por correntes maiores nem desativar dispositivos diferenciais). Recomenda-se rotular cada disjuntor (iluminação sala, TUG cozinha, chuveiro, ar-condicionado, etc.) e colocar legenda permanente na porta do quadro. 

8. Dispositivo Diferencial-Residual (DR / RCD) – Ausente na imagem

Não se observa na foto nenhum DR (IDR/RCCB ou disjuntor diferencial). A NBR 5410 torna obrigatória a proteção adicional por DR de alta sensibilidade (IΔn ≤ 30 mA) em diversos circuitos residenciais, incluindo:

Circuitos que alimentam pontos em locais com banheira ou chuveiro;

Tomadas em áreas externas;

Tomadas internas que possam alimentar equipamentos externos;

Em habitações: pontos em cozinhas, copas-cozinhas, lavanderias, áreas de serviço, garagens e demais dependências molhadas ou sujeitas a lavagens (exceto, por admissão, circuitos exclusivamente de iluminação acima de 2,5 m, se justificado).

Recomendo fortemente inserir um ou mais DRs (por exemplo, DR geral a montante + DRs setoriais, ou blocos diferenciais acoplados a grupos de circuitos) para atender à norma e elevar a segurança contra choques. 

9. Coordenação entre disjuntor geral (GV2) e disjuntores terminais

Para garantir seletividade e evitar desligamentos desnecessários:

1. Ajuste térmico do GV2 deve ser superior à soma/demanda dos circuitos terminais, ou dimensionado como proteção de alimentação com seletividade temporizada natural entre curvas de disparo (o GV2 atuará mais lentamente em sobrecargas moderadas se ajustado adequadamente). 

2. Curvas magnéticas: Mini-disjuntores residenciais em curva C (5–10×In) ou B (3–5×In) podem coordenar com o disparo magnético do GV2 (motor-starter) dependendo da corrente de curto; verifique coordenação de curto-circuito para que faltas em circuitos terminais sejam interrompidas pelo disjuntor terminal antes do GV2 sempre que possível. 

3. Capacidade de interrupção: certifique-se de que todos os dispositivos tenham Icn/Icu ≥ corrente de curto presumida no barramento do quadro, conforme cálculo de curto e seletividade indicado pela NBR 5410. 

10. Verificações recomendadas em campo

Item O que verificar Critério/Referência resumida Observação na foto

Alimentação (tensão, fases) Confirmar se rede é 127/220 V, 220 V fase-fase ou outra Projeto + NBR 5410 seleção de componentes Não legível.
Corrente de projeto/demanda Dimensionar disjuntor de entrada (GV2) e seção dos alimentadores NBR 5410 – previsão de cargas Não verificado.
Icc no ponto Calcular para seleção de Icu/Icn dos disjuntores NBR 5410 + catálogos de produto Não verificado.
Torque dos bornes Aperto conforme fabricante Catálogos (GV2, mini-disj.) Não verificado.
DR(s) Instalar/ensaiar botão TESTE NBR 5410 §5.1.3.2.2 Ausente.
Identificação de circuitos Etiquetas permanentes NBR 5410 requisitos de identificação Rótulos genéricos (“ALAB”?) sem detalhe.
Espaço de reserva Espaços livres ou previsão em projeto NBR 5410 §6.5.9.2 Quadro lotado.


11. Comentários adicionais de boas práticas

Organização de cabos: Amarrar/ordenar feixes e manter curvaturas suaves melhora a dissipação térmica e facilita manutenção; guias de montagem de QDC recomendam amarração, separação por função e uso de canaletas internas. 

Proteção mecânica e de contato: Certifique-se de que, com a tampa fechada, não haja acesso a partes vivas por usuários não qualificados; exigência de segurança reforçada pela NBR 5410 para quadros acessíveis ao público. 

Advertências em porta: Inserir aviso sobre não desligar/retirar o DR e não substituir disjuntores por calibres superiores sem ajuste do condutor, conforme orientação de segurança na aplicação da NBR 5410 em quadros acessíveis a leigos. 

12. Próximos passos sugeridos

1. Confirmar dados de placa do disjuntor-motor (modelo exato GV2ME… e faixa de ajuste) e da instalação (tensão, demanda calculada).

2. Revisar cálculo de carga/demanda e dimensionar corretamente o disjuntor geral; avaliar se substituição por disjuntor termomagnético tipo “DIN” devidamente dimensionado (ou disjuntor caixa moldada) não seria mais apropriada do que manter o GV2 desenhado para motores, salvo se houver razão específica (por ex., proteção de bomba).

3. Adicionar DR(s) conforme itens normativos obrigatórios.

4. Etiquetar todos os circuitos e elaborar quadro de cargas.

5. Verificar capacidade de interrupção dos disjuntores modulares instalados (Icn 6 kA? 3 kA?) frente ao Icc disponível.

6. Documentar ensaios de continuidade do condutor de proteção, resistência de isolamento e funcionamento do DR para compor o dossiê técnico do QDC.


13. Referências bibliográficas (formato resumido)

Normas e Documentos Normativos

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 5410: Instalações Elétricas de Baixa Tensão. Rio de Janeiro: ABNT, 2004 (atualização incorporada 2008). Documento consultado em versão digital de domínio público/trechos divulgados. 

ABNT / IEC. ABNT NBR NM 60898 & ABNT NBR IEC 60947-2: Disjuntores de baixa tensão – requisitos para uso doméstico/análogo e industrial. (Datas conforme edição; ver documentação de produto). Trechos compilados no Catálogo Multi 9 / Voltimum. 


Fabricante – Disjuntor-motor

Schneider Electric. TeSys GV2 – Breaker Instruction Sheet (NAT13031), versão 00, 07 fev. 2025. Informações de produto e conformidade IEC 60947-2/-4-1. 

Aplicação da NBR 5410 (QDC, requisitos gerais)

Luísa de Cássia. “NBR 5410: onde se aplica e principais exigências.” Blog Produttivo, 03 jul. 2025. (Inclui diretrizes sobre quadros de distribuição, uso de DR, identificação e acessibilidade). 

Equipe Técnica / Revista Eletricidade Moderna via Voltimum. “Quadros de distribuição, dispositivos de proteção, controle e comando de 0,5 a 125 A (Catálogo Multi 9).” Voltimum Brasil, 2010 (conteúdo técnico sobre disjuntores modulares, curvas B/C/D, barramentos e montagem de quadros). 

Proteção Diferencial-Residual (DR)

Eng. Gabriel Lima (GL Capacitações em Elétrica). “DR (Diferencial-Residual) – O que é, onde aplicar e obrigatoriedade segundo NBR 5410.” GL Capacitações em Elétrica (blog técnico), 2025. 

Identificação de Condutores (Cores)

Henrique Mattede. “Qual a cor correta dos cabos elétricos? Como identificar?” Mundo da Elétrica, 2014-2025 (atualizado). Sintetiza itens 6.1.5.3.x da NBR 5410 sobre cores de condutores neutro, proteção e fase.

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